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quarta-feira, 22 de abril de 2020

PARTE 8 - QUINTO DIA - POLLO DE ALLADE / BERDUCEDO (17km)

O dia amanhece com o tempo mudando, apareciam alguns raios de sol por entre as nuvens, que prometiam uma mudança climática em relação aos dias anteriores, onde o sol deu um belo colorido a cada lugar passado.
Comecei cedo a caminhada, saí do albergue sabendo que teria pela frente uma grande subida para chegar a mais de mil metros de altitude. No caminho, em alguns trechos onde o sol aparecia iluminava os passos em mais um dia de novas aventuras, conhecimentos e lições. Caminhava num ritmo calmo poupando energia para a subida. Assim, aproveitei para tirar fotos das belezas ímpar daquele trajeto, e logo Michel e Jeong me alcançaram. Então, caminhamos bem próximos durante o primeiro trecho.

Após um pouco mais de uma hora e diante de uma grande subida, meus amigos pararam para lanchar, e eu continuei em direção a trilha que seguiria para a montanha.

A subida era íngreme com terreno irregular, e com o aumento da altitude, sem a presença do sol, o frio foi aumentando. A cada trecho percorrido, o topo ía ficando mais próximo e a motivação de atingi-lo, aumentava. Mas foi necessário controlar o ritmo, pois a subida longa exigia uma boa dose de esforço e colocava mais uma vez a prova o período do preparação.
No momento em que atingi os 1.125 metros de altitude, o local já estava completamente encoberto pelas nuvens e a chuva caía com mais intensidade, fazendo com que o frio ganhasse força e a vista do vale de montanhas a minha frente, sumisse subitamente.

É importante lembrar que durante todo o trajeto eu carreguei nas costas a mochila que pesava em torno de 10kg, fazendo com que o esforço fosse um pouco maior. Minha condição física estava boa, mesmo em um trecho como este, não senti dores em nenhuma parte do corpo, o peso da mochila não era um grande incômodo e as bolhas nos pés estavam resistindo, com a técnica da agulha e linha. Porém, foi necessário uma parada para descansar e tirar algumas fotos.
Este descanso foi breve, a chuva e o frio aumentaram e eu precisava seguir caminho, pois não havia nenhum abrigo para aguardar a chuva passar. No topo da montanha, com aquele clima chuvoso, o que mais se percebia era um silêncio tranquilizador. Nada se ouvia, somente as gotas de chuva caindo sobre a roupa e a água escorrendo pelo rosto. Um silêncio que transmitia uma paz indescritível. Trazendo mais uma oportunidade de agradecer e deixar a emoção fluir em forma de lágrimas. Naquele momento, a energia do local foi muito gratificante e significando um grande aprendizado para a vida.
Mas, infelizmente, não deu para ficar muito tempo desfrutando daquele cenário, pois com a chuva e o frio aumentando, precisava pensar em minha saúde, a fim de evitar uma gripe, condição essa que não estava nos meus planos. Então, segui a jornada que tinha na descida, outro desafio.
A descida também foi feita por uma pequena trilha que ficou escorregadia com a chuva, além de ter muitas pedras soltas, o que necessitava de uma atenção especial. Assim, com cuidado, segui minha caminhada. Logo meus amigos Michel e Jeong se aproximaram e continuamos nossa jornada. Os 10 km seguintes foram mais suaves, com pequenas subidas e descidas, acompanhadas por um cenário cinzento.
Meus amigos fizeram mais uma parada para lanchar e eu segui, refletindo sobre a jornada que havia acabado de passar, com o desafio da subida, embaixo de chuva e frio, sobre a preparação física e mental necessárias, a gratidão, as pessoas, o silêncio e sobre as mudanças que podiam ocorrer bruscamente a qualquer momento. Tudo isso estava sendo algo contemplativo em todo o seu profundo significado. Eu estava em meio a uma meditação dinâmica, esta expressão não deve existir, mas foi como defini aqueles dias. Absorver todos os ensinamentos seria um ato contínuo, colocados em prática todos os dias, e não apenas durante o momento que estive vivendo o caminho. Isso exige uma boa dose de esforço e foco, mas é recompensador.
Antes de seguir para o albergue, parei para comer e passar no mercado para comprar algo para o jantar. Iria cozinhar pela primeira vez. Por causa da chuva, resolvi novamente encontrar um albergue privado para poder lavar e secar as roupas e descansar. Meus amigos continuaram a caminhada até uma cidade próxima. 
O albergue estava vazio, aproveitei para tomar um bom banho e lavar a roupa utilizada durante o dia. Depois, escrevi um pouco sobre o dia, baixei as fotos, por segurança, e até que enfim, parei para relaxar. O albergue estava silencioso, ouvi uma boa música relaxante com fones de ouvidos, lí um bom livro com a chuva caindo e apreciei a vista do pequeno povoado. Este foi o fechamento perfeito e merecido, após um dia intenso, tanto física quanto emocionalmente.
Mais tarde chegou ao albergue um casal de jovens espanhóis e mais um grupo de pessoas, três alemães, um deles casado com uma moça vietnamita que morava na Alemanha e uma moça mexicana que vivia em Portugal. Este foi um grupo de pessoas que fez parte de mais algumas etapas desta jornada.
Dia finalizado. Ufa!!! Cansativo e de muitas emoções. 

BUEN CAMINO a todos que seguem comigo.

Até o próximo dia!!!








2 comentários:

Junior Foppa disse...

Bom dia mano, mais uma bela narrativa do caminho. Abraços de todos nós.

Unknown disse...

Que bela lição de foco e determinação meu amor!!
Enfrentar um trajeto com uma grande subida, debaixo de chuva e com a temperatura caindo, depois de já ter percorrido praticamente 100 km nos 4 dias de caminhada, não é moleza não rs. Muito orgulho de você!!